03/10/2019

a amora silvestre


(histórias com raiz e com alma)
(inspiradas em casos clínicos)


(...) uma pessoa em contacto com Artemis/Diana torna-se uma parte, 
não consciente de si, da natureza, integrando-se nela e 
formando uma só com ela nessas momentos.”
J. Shinoda Bolen, As Deusas em cada Mulher


Diana era comparável a uma amora silvestre. Para alguns, brava demais. Para outros, delicada demais. Mulher menina. Maria-rapaz. Descalça. Cabelo ao vento, joelhos esfolados. Pertencendo à terra rochosa e ao elemento ar, aquilo que mais ambicionava era ganhar asas, e aquilo que mais receava eram, afinal, as asas que já eram suas. Tinha 39 anos. Tinha voado mais alto do que lhe tinha sido permitido. Tinha-se reconstruído mais vezes do que acreditava ser possível. Tinha voado também para longe. Mas a memória do corpo era como um clip na asa e Diana era pássaro e era amarra.

E foi em terra granítica, à qual pertenciam os seus genes e as suas raízes, que entendeu a dureza e a magia da sua força. Ao voar para longe, levou-as consigo. E ao tentar calá-las, explodiam de forma desajeitada e distorcida. O clip na asa dizia-lhe que a força destrói. O clip na asa dizia-lhe que a magia corrompe. 

E foi em terra granítica que pousou uma águia no seu braço. E por um instante a águia permitiu que Diana se tornasse nela e voasse com ela. E naquele instante sentiu a bravura das suas garras e a delicadeza das suas penas. E naquele instante entendeu que bravura e delicadeza podiam existir no mesmo corpo. E na mesma alma. E nesse instante disse que tinha medo. E nesse instante tornou-se mulher de bravura delicada e de delicadeza bravia. Autoridade amorosa. Mulher mãe. Menina livre. 


Quando o processo de crescimento é pautado pelo medo e pelo sentimento de insegurança, o indivíduo aprende que precisa de se esconder. Aprende também que as suas capacidades e os seus dons podem ser perigosos e destrutivos. 


por Ana Sevinate
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