(sentires)
Eu vejo o céu quando eu te vejo, Dulcineia!
E o teu nome é como uma oração.
Um anjo sussurra... Dulcineia. “
in D. Quixote
Miguel de Cervantes
Acende-se o fósforo*. Chama sem fronteiras. Sem forma. De
todas as formas. A alma está cá fora. O coração está cá fora. A mente está cá
fora. A pele não limita. Recebe e foi feita para receber. Tudo. Impressões.
Perfumes. Informações. Cores. Sentires. Palavras. Imagens.
O que está lá dentro salta à vista. Transparência. Difunde-se.
Espalha-se. Dá-se. Osmose. Porque a emoção do outro trespassa-a. Todos os
sentires são sentidos. Todos os sustos são de fazer saltar o coração. Ao peito.
Coração minhoto, está também no fio. Ao colo. Coração minhoto, está também na saia.
No lenço dos namorados, está sem dúvida na pele. Sente com as pontas dos dedos
e voa com a ponta das pestanas. São asas de borboleta.
Sente com a ponta do lápis e em bicos dos pés. Arte. Força
de criação que também invade sem pedir licença. Que nutre. Que desenha flores
no chapéu. Que esculpe bailarinas no barro. A inspiração e o luar tocam-na ao
de leve. E é o suficiente para o sol se apaixonar.
Fininha. Luz que acende um castelo inteiro. Luz que acende
uma floresta inteira. Luz que acende um horizonte inteiro. Fica-se preso nos
seus olhos. Vivos. Inocentes. Vive na terra do nunca. Menina eterna.
Volátil. Imensa e pequenina. Doce e implacável. Arrebatadora
e livre. Amor impossível. É sempre mais seguro. É o único que não sufoca. Sim,
porque quase tudo sufoca quando se sente o mundo nos pulmões.
Intensa. De repente tudo se torna demais. Demais. Soprou-se
o fósforo e apagou-se a chama. E com a chama foram-se as paixões. Esconde-se o
sol. Perde-se o coração do fio e perde-se o coração da saia. Perde-se nos
sentires dos namorados e nos sentires de toda a gente. A menina.
Confunde-se. Menina, o que é que te pertence afinal? Não
sei. Menina, e o que é que não é teu afinal? Não sei. Sei que recebi tudo e
porque senti tudo dei tudo. Como se estivesse tudo ampliado. À lupa. Estremecem
as células de cada vez que alguém grita uma palavra. Ondulam os fios do cabelo
de cada vez que alguém se demora.
Agrada. A tudo e a todos. É o destino de quem sente o
sofrimento de tudo e de todos. E quando se agrada sempre, perde-se o coração do
fio e perde-se o coração da saia. Perdem-se as fronteiras. Da identidade.
E com as fronteiras perdem-se também as raízes. De onde és
menina? Sou de todos os lados e não sou de lado nenhum. Porque avancei com a
força do fogo e com isso perdi a terra. Perdi-me no ar. Foram as asas da
borboleta.
Dependente. Está escuro agora. Esgotou-se a chama. E com o
escuro vem o medo. O medo que alguma coisa má aconteça. A si. Aos seus amores. Perdeu-se
o ar e apagou-se o fósforo. É melhor nem respirar, para não sentir. Precisa de
não estar só. Falta o ar.
Dualidade. Às vezes segue e às vezes foge. Mas arranca-se
sempre. De repente, quando tudo é vida e tudo é chama. Para depois passar tudo a
doer. Terra do nunca, sem fronteiras e sem raízes.
Qualquer passo em direção ao horizonte vem de mãos dadas com
o medo. De trovoadas. De perder. Separar é perder. E perder é perder-se a si. E
perder-se no outro é não conseguir respirar.
Movimento romântico. Menina dama. Das Camélias. Alvas.
Sonhadoras.
Ai menina, se tu soubesses que é na roda da saia que ganhas
a dança. Que nessa distância que há entre a roda e o teu par, podes continuar a
ser menina e podes passar a ser mulher. Por isso salta e vem para a roda.
O resgate faz-se na roda menina. Por isso salta e vem para a
roda. Rodopia. Vai e respira. Volta e ilumina. E enquanto isso a saia roda. E
enquanto isso o coração da saia é de todos. Mas enquanto isso o coração do fio
é só teu. É essa a tua fronteira. É essa a tua pele. E porque já tens fronteira,
já podes saber quem és. E quando souberes quem és, já não terás medo da noite.
E quando já não tiveres medo da noite, terás raiz.
Por isso salta menina. Vem para a roda.
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* phosphorus – utilizado em homeopatia, é um remédio obtido
a partir do fósforo, um mineral branco inflamável em contacto com o oxigénio; o
seu nome é de origem grega e significa “que dá a luz”.
Excelente.
ResponderEliminarMuito gratas!! <3
EliminarNítido - Sentido - Luminoso !!!
ResponderEliminarobrigada :)
pode continuar a inspirar-se em outros remédios e brindar-nos com as suas imagens
FESTAS FELIZES :)
Muito obrigada!!!!!!
EliminarEstá outro remédio a caminho :)
Umas Festas Felizes também para si, com um beijinho imenso.