(sentires)
aos rituais do Inverno e ao sol que renasce
Uma vozinha doce, soa longínqua. Mansinha. “Posso?” – perguntou o musgo.
“Podes” – disse a árvore. E o musgo subiu.
O abraço do musgo à arvore tem a doçura de um amanhã que se
antecipa. Um amanhã de noite estrelada. O amanhã de um sol que renasce.
O abraço do musgo à árvore tem o aconchego de um ontem que
sorri. Um ontem de ligações invisíveis. O ontem das partilhas que permanecem.
O abraço do musgo à árvore tem a memória de nós.
No abraço à árvore, o musgo estremece e aninha-se. Vai
crescendo, vai subindo, vai rodopiando. E lá do alto, encarrapita-se e espreita
o firmamento.
No abraço do musgo, a árvore eleva-se e preenche-se. Já não precisa
de contar os malmequeres do chão.
Nasce vida na secura de quem se sustenta para se agarrar ao
chão. Na árvore.
Ganha altura na pequenez minuciosa e atrevida para que seja
semeada ternura. O musgo.
No abraço, o musgo e a árvore aguardam solenemente o cair da
noite. Da noite maior. Onde o ontem e o amanhã se reconhecem. Onde o fogo e o gelo
se vinculam à Terra. Onde as gentes e os pássaros oferecem uma prece aos céus.
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