26/12/2018

o abraço do musgo à árvore


(sentires)


aos rituais do Inverno e ao sol que renasce



Uma vozinha doce, soa longínqua. Mansinha. “Posso?” – perguntou o musgo. 
“Podes” – disse a árvore. E o musgo subiu.

O abraço do musgo à arvore tem a doçura de um amanhã que se antecipa. Um amanhã de noite estrelada. O amanhã de um sol que renasce.     

O abraço do musgo à árvore tem o aconchego de um ontem que sorri. Um ontem de ligações invisíveis. O ontem das partilhas que permanecem.

O abraço do musgo à árvore tem a memória de nós.

No abraço à árvore, o musgo estremece e aninha-se. Vai crescendo, vai subindo, vai rodopiando. E lá do alto, encarrapita-se e espreita o firmamento.

No abraço do musgo, a árvore eleva-se e preenche-se. Já não precisa de contar os malmequeres do chão.

Nasce vida na secura de quem se sustenta para se agarrar ao chão. Na árvore.

Ganha altura na pequenez minuciosa e atrevida para que seja semeada ternura. O musgo.

No abraço, o musgo e a árvore aguardam solenemente o cair da noite. Da noite maior. Onde o ontem e o amanhã se reconhecem. Onde o fogo e o gelo se vinculam à Terra. Onde as gentes e os pássaros oferecem uma prece aos céus.  



por Ana Sevinate


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