(psicologia pela nossa paisagem)
"Atravessa esta paisagem o meu sonho infinito"
Fernando Pessoa
As nossas raízes estão plasmadas na paisagem que habita o
nosso corpo e a nossa alma. Bosques, fragas, planície ou areal. Árvores
farfalhudas, despidas, revestidas a cortiça ou, simplesmente, ausentes. Asas de
corvo, milhafre, cegonha ou gaivota. Cerejas, amêndoas, bolotas ou camarinhas.
Chamam por nós. Ressoam em nós. Ecoam o nosso nome.
Crescem connosco. Da semente à baga, da casca à clorofila, da
eira ao quintal. Habitam no centro. Das células, do coração e da terra. É
preciso conhecê-las. São registo genético. É preciso visitá-las. São ponto de
partida. Para os destinos da vida. Para os propósitos do espírito.
A paisagem que habita o nosso corpo e a nossa alma é galho
onde pousamos. Do amanhecer à desfolhada. Onde respiramos o dourado das espigas
e celebramos o doce das maçãs. Com salpicos de sorriso. Ou de lágrima.
A paisagem que habita o nosso corpo e a nossa alma é água
termal que sara. Do entardecer à alvorada. Onde lavamos os espinhos da saudade
e bebemos o perfume das memórias. Velhinhas. À braseira. Ou à fogueira.
A paisagem que habita o nosso corpo e a nossa alma é o
bailado de sempre. Cisne branco e cisne negro numa pena só. Ficaram no sangue,
nos tecidos e nos alvéolos. Foi aquele o alimento que nutriu. A árvore. Foi
aquela a luz que tocou a pele. Da árvore. Foi aquele o ar que expandiu. A
árvore.
Genealógica.
Árvore, regressamos aqui. Árvore, regressamos hoje. Para
relembrar quem somos. Para podermos partir. A partir de ti. Para ti.
Conta-nos. Diz-nos como é.
Como sempre foi.
Conta-nos. Diz-nos como é.
Como sempre foi.
As terras e os lugares de onde viemos e de onde vieram as
gerações anteriores a nós estão gravados na nossa consciência. E por vezes é
preciso regressar. Para respirarmos as nossas raízes.
Ana Sevinate
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