13/09/2019

a genética da paisagem



(psicologia pela nossa paisagem)

"Atravessa esta paisagem o meu sonho infinito"
Fernando Pessoa


As nossas raízes estão plasmadas na paisagem que habita o nosso corpo e a nossa alma. Bosques, fragas, planície ou areal. Árvores farfalhudas, despidas, revestidas a cortiça ou, simplesmente, ausentes. Asas de corvo, milhafre, cegonha ou gaivota. Cerejas, amêndoas, bolotas ou camarinhas. Chamam por nós. Ressoam em nós. Ecoam o nosso nome.

Crescem connosco. Da semente à baga, da casca à clorofila, da eira ao quintal. Habitam no centro. Das células, do coração e da terra. É preciso conhecê-las. São registo genético. É preciso visitá-las. São ponto de partida. Para os destinos da vida. Para os propósitos do espírito.

A paisagem que habita o nosso corpo e a nossa alma é galho onde pousamos. Do amanhecer à desfolhada. Onde respiramos o dourado das espigas e celebramos o doce das maçãs. Com salpicos de sorriso. Ou de lágrima.  

A paisagem que habita o nosso corpo e a nossa alma é água termal que sara. Do entardecer à alvorada. Onde lavamos os espinhos da saudade e bebemos o perfume das memórias. Velhinhas. À braseira. Ou à fogueira. 

A paisagem que habita o nosso corpo e a nossa alma é o bailado de sempre. Cisne branco e cisne negro numa pena só. Ficaram no sangue, nos tecidos e nos alvéolos. Foi aquele o alimento que nutriu. A árvore. Foi aquela a luz que tocou a pele. Da árvore. Foi aquele o ar que expandiu. A árvore.

Genealógica.

Árvore, regressamos aqui. Árvore, regressamos hoje. Para relembrar quem somos. Para podermos partir. A partir de ti. Para ti.

Conta-nos. Diz-nos como é.

Como sempre foi. 


As terras e os lugares de onde viemos e de onde vieram as gerações anteriores a nós estão gravados na nossa consciência. E por vezes é preciso regressar. Para respirarmos as nossas raízes.


Ana Sevinate


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