19/10/2020

o desamparo e o rio

 

(sementes)

"Vou na ribeira do rio

Que está aqui ou ali,

E do seu curso me fio,

Porque, se o vi ou não vi.

Ele passa e eu confio."


Fernando Pessoa


É na experiência do desamparo que a proximidade da relação se torna imperdoável. E é também na experiência do desamparo que a separação se torna insuportável. A proximidade relembra-o e a separação revisita-o. A ideia de dependência é banida e a independência é fugitiva. 

E se o rio for a ponte? A travessia? Entre dois mundos. Pois se o amparo está na terra, o encontro faz-se na água. Na relação. Na relação que acolhe, suporta e espelha a possibilidade do paradoxo e da contradição aparente. É na água que fluem as emoções e que o olhar se sustenta e é na água que, com o amparo das margens, encontramos amorosamente a possibilidade do colo. 

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